Temporada de articulações políticas pré eleições de 2022 se inicia
- Jornal Informes
- 3 de jun. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 4 de jun. de 2021
Especialistas alertam sobre efeitos da polarização política para a democracia brasileira.
Por Rayne Sá

Ainda que as disputas eleitorais estejam longe no calendário, as articulações e manifestações políticas já começaram. (Foto: Thandy Yung)
Os efeitos da polarização política na conjuntura atual do país, especialmente em meio à crise política, sanitária, econômica e humanitária que vivemos, preocupam especialistas, uma vez que a mesma apresenta perigos para a democracia brasileira.
A polarização política não é um conceito novo. Na verdade, seu impacto na sociedade é alimentado diariamente, e expressa um viés extremista e antidemocrático. O sociólogo Ricardo Soares explica que os primeiros passos desse cenário nasceram em 2013, quando milhares de pessoas foram às ruas questionar o aumento das tarifas dos transportes, mas logo as pautas se amplificaram e direcionaram as reivindicações contra os governos, incluindo o federal. “Após esses protestos, o governo do PT perdeu sua estabilidade no controle do país, Dilma quase perdeu as eleições de 2014, surgindo novas ondas de protesto em 2015, só que dessa vez eram atos exclusivamente da direita e da extrema direita”, finaliza.
Segundo Edson Mendes Nunes Junior, mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, hoje não temos uma polarização eleitoral que está moldada, de fato, nas contradições materiais da população brasileira, “mas naquilo que o filósofo Slavoj Zizek chama de ultra política: a construção despolitizada de ‘inimigos de guerra’, marcada pelo ódio, pelo medo e pelo moralismo”, reitera.
Entre os prováveis candidatos à Presidência da República estão o atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que certamente buscará a reeleição, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que se tornou elegível pela decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), em março. Independente das diferenças que circundam ambos, a possível disputa entre Lula e Bolsonaro reacenderá a polarização, evidenciando um cenário de confronto no país, sobretudo, no contexto pandêmico que o Brasil se encontra, tornando a pandemia a principal pauta para todos os possíveis candidatos à Presidência.
“Em um sentido econômico, o desemprego, o aumento da pobreza e o ineficiente auxílio emergencial evidenciam divisões que impactarão a tomada de decisão do eleitorado nas urnas em 2022”, frisa Edson, que lembra até mesmo sobre uso da máscara, medida essencial para diminuir o impacto da circulação do vírus no sistema de saúde, que tornou-se um instrumento de diferenciação entre oposição e apoiadores do governo.
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Ainda que as eleições pareçam longe no calendário, o eleitorado brasileiro, assim como prováveis candidatos, já se movimentam para manifestar seus interesses em partidos ou políticos. Muitos levam em consideração o contexto atual que vivemos e outros relembram o passado do país.
Maria Eduarda Magro, mestranda em História na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, alerta para o momento atual e a crise humanitária que vivemos, “o que se revela não somente pelo alarmante descaso com a pandemia e com as pessoas mortas em decorrência disso, mas pela falta de humanidade que se observa na maior representação política do país.” Para a historiadora, o que se precisa é de firmeza para uma condução que seja humanitária, responsável, ética, democrática e comprometida com o bem-estar coletivo, e não com a defesa de posicionamentos individuais.
Para Ricardo Soares, não podemos acreditar que a polarização seja totalmente negativa, pois sem ela não ocorrem debates importantes entre os lados opostos para a continuidade da sociedade, “a política nacional também está marcada por essa polarização, porém outro fator ganha protagonismo, o extremismo”, conclui.
A polarização disfarçada de extremismo, ou o ataque disfarçado de opinião dificultam o diálogo. O cientista político, Edson Mendes Nunes Junior, pontua ainda sobre a falsa radicalização afastada da realidade concreta que, além de ameaçar avanços democráticos, nos impede de conhecer, enxergar e debater as reais questões do Brasil.
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