Comunidade científica encontra dificuldades no diagnóstico da Covid-19 infantil
- Jornal Informes
- 1 de jun. de 2021
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Casos de manifestação da doença em crianças são raros, e a ampla variedade de sintomas dificulta seu diagnóstico.
Por Melissa Oliveira Maciel

Segundo pesquisas, dos mais de 370 mil mortos por covid-19 no Brasil, cerca de 2 mil têm menos de nove anos.
A Covid-19 se manifesta de maneira distinta em crianças com relação aos adultos. No decorrer da pandemia, especialistas observaram, além do quadro de doença pulmonar, apresentações atípicas da infecção, com sintomas que variam de dor abdominal a convulsões, confundindo médicos quanto ao diagnóstico.
SIM – P, a manifestação que mais leva crianças à morte
A forma mais observada da doença até o momento, um quadro de inflamação pulmonar, tende a acometer crianças com comorbidades, no entanto, médicos têm testemunhado a apresentação de sintomas diversos, como dores abdominais, diarréia, vômito e convulsões. Tais manifestações levam a diagnósticos iniciais não relacionados à Covid.
Essa manifestação atípica da doença foi batizada por especialistas de "Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica" (SIM-PARA), através dela desenvolvem-se os quadros mais graves da doença em crianças. Sobre isso, a pediatra ambulatorial Liliane Lacerda, afirma: “a SIM-P se apresenta como quadro grave e preocupante pelo potencial risco de morte e sequelas nas crianças”, e acrescenta que “ela se parece com outra doença que já conhecíamos, a Síndrome de Kawasaki, vários ou até todos os órgãos do corpo estão inflamados, além do risco iminente de choque.”
A pediatra ressalta ainda que “esta é uma complicação de início confuso, com variados sintomas que são difíceis de relacionar no início, porque se parecem com diversas outras doenças.”
Tamiris Pecorari , mãe da pequena Ester de 5 anos, que contraiu a doença, ao ser questionada sobre os sintomas da filha, explicita que durante todo o período de internação Ester não teve nenhum sintoma respiratório, a manifestação se deu através de sintomas gastrointestinais, como diarréia e vômito. Quanto aos diagnósticos iniciais afirma: "A princípio os médicos acharam que era alguma bactéria, uma infecção devido a algo que ela tivesse comido, a Covid só foi confirmada no quarto dia de internação”, ela declara.
Abordagem ideal
Uma vez que os especialistas já têm consciência da possibilidade de manifestação atípica da Covid infantil, faz-se necessário o seguimento de um protocolo de abordagem quando as crianças chegam ao pronto atendimento com variação sintomática.
Sendo assim, “as crianças doentes deveriam ser sempre testadas ao chegarem ao pronto atendimento, em um mundo ideal, porém, no mundo real, não temos testes e nem mão de obra suficientes”, observa Liliane.
Raridade de casos graves da doença em juvenis
Com o decorrer da pandemia, profissionais da saúde puderam observar que a faixa etária infantil é, proporcionalmente, menos afetada pela doença, porém a comunidade científica ainda não chegou a um consenso sobre a razão dessa resistência.
Segundo Fabrizio Motta, supervisor médico do Controle de Infecção e Infectologia Pediátrica do Hospital da Criança Santo Antônio, departamento da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, uma das principais teorias para esta realidade é a menor expressão da enzima conversora de angiotensina (a qual funciona como um receptor para o coronavírus) nas células das crianças, o que dificulta a entrada do vírus na célula.
Além disso, Motta reitera que “o sistema imunológico da criança é imaturo, e, portanto, não reage de forma tão exacerbada, apresentando todo aquele quadro inflamatório, que é muito mais a reação do organismo contra o vírus do que o próprio vírus.”
Tal raridade de manifestação provocou certa resistência comunitária em acreditar que crianças possam contrair a doença. “A resistência é enorme, a desinformação também”, esclarece Liliane Lacerda.
Principais sequelas em crianças recuperadas
Apesar da Covid infantil apresentar menor escala de manifestação, são evidenciadas sequelas, tanto físicas quanto psicológicas, após a apresentação de casos graves.
Nesse ínterim, Fabrizio explica que a ocorrência da SIM-P pode provocar sequelas cardiológicas, com dilatações e aneurismas nas coronárias. Mas ressalta que “nas crianças nós não podemos esquecer das complicações relacionadas ao lockdown, ao ficar longe do ambiente escolar, acredito que esta será a grande sequela da pediatria.”
Alexandra Ferrarini, mãe do Guilherme de 5 meses, que esteve internado com a Covid, conta que o filho precisou de acompanhamento de um cardiologista devido a um derrame pericárdico, e de neurologista por conta de suspeita de crise convulsiva. Porém, com o tratamento, o pequeno se recupera bem.
Assunto muito inportante a ser discutido... Parabéns.!